Durante sua formação acadêmica, Débora Bolsoni investigou suas questões estéticas a partir do desenho, no sentido mais amplo do termo; e conviveu muito, ao longo de sua vida, com pedreiros e seus materiais. Sua pesquisa – e consequentemente suas obras – aparta elementos de seus contextos ordinários, tirando-os de um fundo comum, criando analogias narrativas. Não raro, suas peças são o resultado da soma entre desenho e alguns itens utilizados na construção civil: azulejos, grades, lanças, vidro, carrinhos de pedreiro etc. Ainda assim, o desenho precede à obra ou nela se faz presente. Em Blocado: a arte de projetar, vol. 1, observamos esses elementos relativizados – e no limite, ausentes. O título da obra parte do manual Arte de projetar em arquitetura, de Ernst Neufert, muito conhecido entre engenheiros e arquitetos por reunir, de forma sistemática, fundamentos, normas e prescrições sobre recintos, edifícios, instalações e utensílios, tomando o ser humano como medida e objetivo. Blocado traz um perfil metálico tal qual esquadrias, janelas, e um bloco de papel de tamanho aproximado do citado manual. A janela ali deve ser manipulada de outra forma, e sua medida é alterada em função do que se abre: o livro. O vidro canelado de um vitrô, translúcido, é substituído pela cola hotmelt que une folhas cinzas, com conteúdos não prescritos, criando uma superfície opaca e espessa. Frontalidade e lateralidade; rigidez e flexibilidade; forma e função; são pares relativizados quando se coloca a obra de Débora em uma estante repleta de livros.